sexta-feira, 25 de março de 2011

HISTORIOGRAFIA SUL-MARANHENSE Artigo 3

CAROLINA SOB DOMÍNIO DE GOIÁS
Adalberto Franklin
O Maranhão ainda desconhecia sua extensão territorial ao ocidente quando, na metade do século XVIII, se deu a ocupação do “território dos Pastos Bons”, que de leste a oeste se alargava entre os rios Parnaíba e Gurupi, e de norte a sul, desde os últimos currais das Aldeias Altas (atual Caxias) às margens do Tocantins, um país maior do que poderiam imaginar os capitães-generais da Capitania.
Os vaqueiros descendentes dos bandeirantes e sesmeiros da Casa da Torre, que num lapso de mais de dois séculos afugentaram e dizimaram dezenas de nações indígenas dos sertões nordestinos, desde a Bahia até as margens do Parnaíba, promoviam novas bandeiras a partir da vila de Pastos Bons, tangendo seus gados cada vez mais a oeste, até chegar ao Tocantins, nos primeiros anos do século XIX.
Já em 1809, no trajeto de sua viagem “de São Luís até a corte do Rio de Janeiro”, Sebastião Gomes da Silva Berfort encontra o maranhense Elias Ferreiras de Barros como grande fazendeiro instalado às margens do rio Manoel Alves Grande, dono das fazendas Mirador e Cruzeiro. Nesse tempo, já se encontrava instalado no Riachão o fazendeiro, também maranhense, Manoel Coelho Paredes. Elias Barros é dado oficialmente como fundador de São Pedro de Alcântara (atual Carolina), e seu compadre Coelho Paredes, o fundador de Riachão. O governo da Província do Maranhão disso não tinha qualquer conhecimento.
Em 1810, porém, o regatão goiano Francisco José Pinto de Magalhães, que traficava mercadorias e índios -- vendidos como escravos -- entre Goiás e Belém, fez pacto com os índios Macamecrans (Krahô), que pouco antes haviam sofrido grande revés numa batalha contra os criadores, em guerra de vingança porque esses indígenas, pouco antes, dizimaram uma fazenda e mataram todos os seus moradores. Depois desse conflito, os Krahô passaram a habitar nas proximidades do morro do Chapéu. Tirando proveito das fragilidades desse povo nativo, Pinto de Magalhães estabeeleceu-se na margem direita do Tocantins, nas proximidades da aldeia, em taperas abandonadas por Elias Barros, e passou a utilizar os guerreiros Krahô em guerras contra  outras tribos da região. Os cativos eram levados pelo regatão para Belém, onde eram vendidos como escravos.
Pinto de Magalhães escreveu um longo relatório ao governador da Província de Goiás afirmando ter “fundado um arraial em meio ao deserto, facilitando a navegação do rio Tocantins e tirando das trevas um povo selvagem”. Pediu ajuda financeira ao governo, em reconhecimento ao seu “achado”, e ainda patente de comandante para si, assegurando estar em terras de Goiás. A tudo isso acedeu o capitão-general Fernando Delgado Freire de Castilho, sem nada apurar da veracidade das informações recebidas.
A presença de milícias goianas do lado direito do Tocantins, em apoio a Pinto de Magalhães, foi logo denunciada ao governo do Maranhão. Deu-se então início a um litígio que perduraria mais de quarenta anos. Em 1815, deu-se início às tentativas de demarcação das fronteiras entre Maranhão e Goiás. Do lado maranhense, comandou a comissão de estabelecimento de limites o major Francisco de Paula Ribeiro, auxiliado pelo cartógrafo português Antônio do Couto; do lado goiano, o sargento-mor José Antônio Ramos Jubé, auxiliado exatamente por Pinto de Magalhães. As duas comissões não chegaram a consenso, mas, em 1816, os governos das duas províncias assinaram um acordo, ficando as terras da margem direita do Tocantins sob domínio do Maranhão. 
Em 1834, a Assembleia Provincial de Goiás, desconhecendo o antigo pacto, aprovou uma lei transferindo a vila de Carolina, do lado esquerdo do Tocantins (território de Goiás), mais de cem quilômetros rio abaixo), para a povoação maranhense de São Pedro de Alcântara. Autoridades civis, judiciários e militares de Goiás ocuparam a povoação maranhense, que passou a ser chamada de Carolina. Fazendeiros locais e de todo o sul do Maranhão protestaram contra essa usurpação, sob a forte liderança do primeiro juiz de Paz da Chapada, o intelectual, rico e temido Militão Bandeira Barros, que poucos anos antes havia proclamada a “República Independente dos Pastos Bons”. De nada adiantou, pois o governo do Maranhão não reagiu à altura; ficou a esperar a decisão das negociações diplomáticas que se faziam na Corte, sempre adiadas.
Anos depois, o deputado geral do Maranhão, Cândido Mendes de Almeida, assumiu no Congresso Brasileiro essa causa, tratando de juntar toda a documentação possível sobre a história da ocupação e povoamento da região, como prova da pertença desse território ao Maranhão. Conseguiu reunir um vasto acervo, que lhe deu condições de argumentar e vencer a demanda, resolvida por definitivo em 1854.
Toda essa causa foi por Cândido Mendes de Almeida publicada no livro “A Carolina ou a definitiva fixação de limites entre as províncias do Maranhão e de Goiás: questão submetida à decisão da Câmara dos deputados desde 15 de junho de 1835”, em que foram incluídos todos os documentos históricos juntados pelo autor. O livro, publicado em 1852, ainda antes de se concluir a questão, não recebera outra edição e se fez raridade. Em 2006, o Projeto BNB de Cultura aprovou projeto da Academia Imperatrizense de Letras para a republicação dessa obra, sob minha coordenação. A nova edição, com quase quatrocentas páginas (incluindo Introdução e notas de comentário de minha autoria), foi lançada em 2007, em praça pública, no “Portal do Milênio”, no centro de Carolina, na data do aniversário da cidade. É, portanto, também, um livro inaugural da historiografia do sul do Maranhão.  
*Adalberto Franklin é jornalista, historiador e membro da AIL.

Um comentário:

Anônimo disse...

PCdoB: UMA LUTA DE TODOS NÓS.

O SOCIALISMO COMO UTOPIA COTIDIANA...

Fruto das lutas dos trabalhadores nasceu empunhando a bandeira do socialismo a qual soube irmanar com as jornadas pelos direitos do povo e pelo desenvolvimento soberano e democrático do Brasil. Este conteúdo de sua trajetória é o que explica sua longevidade e seu contínuo rejuvenescimento. É o que o faz um partido jovem sendo o mais antigo. Ao encaminhar-se para seus 90 anos é uma legenda que se expande. Alarga sua presença nas várias esferas da luta política, social e de idéias. Valoriza suas relações com a intelectualidade progressista, com o mundo da ciência e da cultura. O Partido tem um vínculo histórico com as aspirações progressistas e revolucionárias dos estudantes e da juventude, cujas lutas e bandeiras da União da Juventude Socialista (UJS) têm sido um canal de expressão. De igual modo, valoriza, com palavras e prática, a luta emancipacionista das mulheres.
Para levar adiante este grande projeto transformador, movimenta-se para que sua essência revolucionária seja continuadamente reafirmada e avivada. Longo e difícil foi o caminho que percorreu até aqui. Enfrentou governos retrógrados e ditaduras que infestaram o período republicano. Toda vez que a democracia foi golpeada ele – com ela compromissado – foi o primeiro a ser atingido. Num país gigante de riquezas sempre cobiçado e saqueado pelas grandes potências, a defesa que realiza da soberania nacional atraiu o ódio dos entreguistas e do imperialismo. É um Partido que se forjou, portanto, combatendo ditaduras e defendendo a democracia e a liberdade!
Hoje, o PCdoB bate-se por uma reforma política que amplie a democracia, ao mesmo tempo em que luta pela democratização da mídia. Enfrenta a renitência da direita que insiste em tentar criminalizar os movimentos sociais.
No Maranhão ganhamos dimensão de poder real, pois o povo ainda sente atravessado na garganta o criminoso e violento resultado eleitoral de 2010. Mais, o conjunto oposicionista liderados por Flavio Dino, continuam se articulando pra libertar o estado desses laços de dependência feudal e oligarquizante.
Escrever a história, resgatar a memória de seu acervo de realizações e lições, de sua galeria de heróis de homens e mulheres que deram sua vida pela causa do Brasil, da democracia e do socialismo, inspiram as gerações contemporâneas a seguir avante. Alimentam-nas de ânimo e entusiasmo para edificarem um partido forte, influente, massivo com bases militantes, capaz de forjar a aliança necessária e liderar as lutas para o triunfo de seu Programa Socialista.

Prof. Adonilson Lima

Dirigente Estadual PCdoB