A VIAGEM DE SEBASTIÃO BERFORD
Adalberto Franklin¹
A viagem empreendida em 1809 pelo coronel Sebastião Gomes da Silva Berford (algumas obras grafam Belfort, como também era designada essa importante família do Maranhão colonial), desde São Luís do Maranhão até o Rio de Janeiro, foi o cumprimento tardio da Carta Régia de 12 de março 1798, em que o então príncipe regente de Portugal, dom João (o Dom João VI da História do Brasil) determinava ao governo da Província do Maranhão a exploração e ocupação dos sertões do Maranhão, a localização exata do rio Tocantins nesse território e a promoção da navegação desse rio, em acordo com os governos das províncias de Goiás e Pará.
Nesse lapso de tempo entre 1798 e 1809 o Maranhão tivera vários governadores, mas nenhum se moveu para cumprir essas ordens régias. Até então, os governos do Maranhão não sabiam sequer a altura em que onde o rio Tocantins margeava a província, apesar de ter conhecimento da navegação regular que ocorria entre Goiás e Belém do Pará havia um século. São Luís tinha seus olhos voltados apenas para a Corte.
Após o estabelecimento da família real no Rio de Janeiro, o regente dom João mandou renovar a cobrança do cumprimento da carta régia ao governador do Maranhão, então o capitão-general Francisco de Melo Manuel da Câmara, que se apressou em mandar promover a ordem real. Às pressas, foi escolhido o rico fidalgo capitão Sebastião Gomes da Silva Berford para realizar essa missão; e ele o fez às suas próprias expensas.
O “Roteiro e mapa da viagem da cidade de São Luís do Maranhão até a corte do Rio de Janeiro”, resultado dos registros dessa viagem, é a primeira descrição oficial que se conhece sobre os sertões do Maranhão. Seu autor, Sebastião Gomes da Silva Berford, o escreveu em forma de diário de viagem, como era prática naquela época, anotando o dia a dia da jornada, indicando localização e a paisagem de cada lugar, desde sua partida da capital do Maranhão, em setembro de 1809, até sua chegada ao Rio de Janeiro, em maio de 1810.
De São Luís até Caxias, Berford viajou pelo rio Itapecuru. Daí em diante, com tropa de soldados e escravos, seguiu pelas matas até o Arraial do Príncipe Regente, na confluência do Itapecuru com o Alpecatas, fundado e dirigido pelo militar Francisco de Paula Ribeiro; seguiu para a vila de Pastos Bons, primeira povoação fundada na parte sul da Província; daí para o rio Manoel Alves Grande e o Tocantins, obedecendo a uma rota de povoação já existente, em território ocupado pelos criadores dos “pastos bons”, corrente povoadora originada pelos vaqueiros e bandeirantes da Casa da Torre. Deixando o território maranhense, Berford atravessou Goiás, passou por terras das Minas Gerais e finalmente chegou ao Rio de Janeiro. Tudo devidamente observado e anotado, nomes e distâncias das vilas, arraiais, freguesias, rios, ribeirões, riachos, rios, morros, montanhas etc.
O trabalho de Berford foi publicado pela Imprensa Régia, em 1810, “Por ordem de S.A.R.” (Sua Alteza Real), dom João VI. Depois dessa publicação, com pequena tiragem, essa obra nunca recebera outra publicação, até que em 2008 foi republicado pela Ética Editora, acrescido com “Apresentação” dos mestres em História Alan Kardec Gomes Pacheco Filho e Marcelo Cheche Galves, da UEMA, e de “Perfil Biográfico” de Sebastião Gomes da Silva Belfort pelo historiador Mílson Coutinho.
Na próxima semana, o artigo 3: A OBRAS DE FRANCISCO DE PAULA RIBEIRO
Adalberto Franklin é jornalista, historiador e editor imperatrizense.
Um comentário:
"(...)São Luís tinha seus olhos voltados apenas para a Corte."
Artigo interessante. Alguns governantes por lá ainda hoje tratam de forma ignorante o "resto" do Maranhão.Taí a origem.
Obrigado grande Adalberto Franklin!
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